Filme

Como usar O Poço na redação

2020 • 1h34min • 16+
Sinopse: "Um lugar misterioso, uma prisão indescritível. Dois reclusos vivem em cada nível. Um número desconhecido de níveis. Uma plataforma descendente contendo comida para todos eles. Uma luta desumana pela sobrevivência, mas também uma oportunidade de solidariedade."

DESIGUALDADE SOCIAL

“O Poço” explora, literalmente, a verticalidade social vivenciada hoje na representação de uma prisão vertical, na qual cada nível é uma classe social. Como diz o companheiro de cela do protagonista, Trimagasi, “há três tipos de pessoas: as de cima, as de baixo, e as que caem”, sendo descartada a remota possibilidade de espontânea ascensão social.


INDIVIDUALISMO

Dentro do chamado Centro Vertical de Autogestão, uma plataforma com comida desce do primeiro andar em diante. Em teoria, o banquete seria suficiente para todos, mas a ostentação e luxo dos residentes dos níveis superiores impossibilitam a distruibuição justa dos recursos. A cada mês, prisioneiros trocam de níveis e, mesmo assim, o egocentrismo típico do capitalismo permanece: como diz Paulo Freire, “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”.


INSEGURANÇA ALIMENTAR

A realidade distópica do filme revela a gravidade do problema da insegurança alimentar e da fome, muito presente no Brasil. Enquanto poucos recebem muito em seus pratos, muitos ficam de estômagos vazios. No filme, as opções são claras: em níveis (ou classes) inferiores, a escolha é comer ou ser comido.


O PODER DO ESTÔMAGO

Uma análise feita pelo filme é o efeito da privação da necessidade humana pela alimentação. Por um lado, a instintividade da fome causa atos horrendos de violência no filme, mas também a movimentação por uma mudança no status quo, sendo a fome causa comum de diversas revoltas históricas, como a Revolução Francesa e a Primavera Árabe.


CONSCIÊNCIA DE CLASSE

Mesmo com o revezamento de níveis, é visto como os prisioneiros não desenvolvem uma consciência de classe para ajudar uns aos outros. Afinal, todos passam pelas mesmas privações um mês ou outro, mas preferem focar em seus privilégios quando os possuíam. Faz-se uma reflexão ao mundo de hoje, onde falta união de classe para o combate às mazelas sociais.


PROTEÇÃO DA CRIANÇA

Ao longo do filme, vemos uma mãe que busca proteger sua filha incessantemente. A proteção de crianças em ambientes de vulnerabilidade como tal cenário é de suma importância, e, pela mesma lógica, Goreng sacrifica a panna cotta para alimentar a garota. É assim que fica claro que ela é a mensagem: a proteção de uma criança ainda em um contexto hostil revela a humanidade dos prisioneiros, ao salvar a concretização da inocência e da esperança, a criança.


ANÁLISE DA SIMBOLOGIA
“ÓBVIO”

Trimagasi repete múltiplas vezes a palavra “óbvio” ao explicar o poço ao protagonista em uma contradição do realismo de um antigo prisioneiro, sobrevivente do sistema que se rende a este, e do idealismo de um novo integrante, Goreng.


O LIVRO E A FACA

O filme discute a importância da educação, representada pela leitura literária, para a solução de mazelas sociais. Ao contrário de Trimagasi, que traz uma faca para se proteger e se alimentar, Goreng é o único que decide trazer um livro, uma escolha que define seu caráter messiânico.


DOM QUIXOTE

A menção ao livro como objeto escolhido de Goreng traça uma estreita relação entre as tramas das duas obras e seus personagens. Goreng, assim como Dom Quixote, se perde na loucura e nas ilusões, mas é a figura heróica destinada a salvar todos.


333 E O INFERNO

O Centro Vertical de Autogestão é uma clara analogia ao inferno, com 333 andares e 666 pessoas (números bem conhecidos). Ao descer pela plataforma, Goreng observa exemplos típicos de cada um dos 7 pecados capitais, um em cada andar. As referências bíblicas são diversas, inclusive com a referência de Goreng a Messias, Jesus e Mensageiro em diversos momentos.


NOMES DOS PERSONAGENS

Tudo nessa narrativa gira em torno de comida, até os nomes do personagens: Nasi Goreng é um prato da Indonésia semelhante a arroz frito; Baharat é uma mistura de condimentos típica do Oriente Médio; Imoguiri lembra muito o prato japonês oniguiri, bolinho de arroz.


EXEMPLO DE INTRODUÇÃO:
Tema: “Desafios para a segurança alimentar no Brasil”

No filme espanhol “O Poço”, prisioneiros são confinados em uma torre vertical e apenas podem se alimentar dos restos da comida do nível de cima. Na narrativa, fica clara a disparidade do luxo dos primeiros andares comparada à miséria dos últimos, analogamente à realidade. Fora do mundo distópico, o problema da insegurança alimentar no Brasil se vê, de fato, atrelado ao fato da enraizada desigualdade social do país e da má distribuição dos recursos em uma sociedade verticalmente hierarquizada.